Nathan Belcavello de Oliveira*
Você já percebeu que o Carnaval, mesmo sendo realizado entre os meses de março e abril, nunca acontece na mesma época de um ano para outro? E você sabe o porquê disso? Porque o Carnaval, ao contrário do que a maioria sabe, é um feriado religioso, seguindo o calendário católico. Religiosamente a terça-feira de Carnaval precede a quarta-feira de Cinzas, quando os fiéis vão à missa pela manhã e são abençoados com as cinzas formando um desenho de cruz em suas testas, como sinal de remissão dos pecados e início das penitências da Quaresma, período de 40 dias que, por sua vez, precede a Páscoa cristã.
Não há certezas quanto à origem etimológica do termo Carnaval, mas muitos estudiosos da área creditam seu significado primário ao termo latino carne levale, traduzido como “retirar a carne”, numa clara referência à expressão religiosa que o feriado teria de suspensão do consumo de carne para purificação durante a Quaresma.
Contudo, muitos têm o Carnaval, em verdade, como “a festa da carne”, o momento em que as pessoas se permitem fazer e aproveitar prazeres e experiências que não lhe são autorizados usufruir nos demais dias do ano. E esse sentido da festa não é uma interpretação contemporânea; pelo contrário, trata-se de resquícios muito antigos de culturas da antiguidade que perpassaram os tempos e foram assimilados pelo catolicismo.
A principal influência, sem dúvida, vem da cultura greco-romana. Entre o que atualmente seriam os meses de janeiro e fevereiro, os gregos faziam grandes festas regadas a vinho e à entrega aos prazeres em honra a Dionísio, o deus do vinho, chamado pelos romanos como Baco. Daí esses festejos também serem conhecidos como bacanais, hoje em dia um termo referente a orgias sexuais. Haviam nesta época do ano também as festas saturnais, em honra a Saturno, onde escravos podiam se vestir como senhores, satirizando seus costumes e posições, chegando seus amos a os servirem, numa clara troca de papéis sociais.
Fonte: Internet.Outra comemoração normalmente associada ao moderno Carnaval era a Navigium Isidis (navio de Ísis), deusa egípcia que se popularizou entre a população do Império Romano. Era realizado no dia que hoje conhecemos como 5 de março. A estátua da deusa era colocada em um carro em forma de navio e seguida por um cortejo de pessoas com máscaras.
Também os povos germânicos, combatidos e escravizados pelo Império Romano, possuíam festas entre o fim do inverno e início da primavera, que no hemisfério norte acontece exatamente no primeiro trimestre do início de cada ano. A figura central nas comemorações germânicas era a deusa Nerto ou Frey, responsável pela fertilidade. De maneira semelhante ao cortejo em homenagem a Ísis, sua estátua era colocada em um carro em forma de navio e acompanhada por homens e animais vestidos de mulheres. Por sua vez, de maneira análoga à festa greco-romana a Baco, era um momento de liberação sexual.
O mais interessante e comum entre todas essas possíveis origens da atual comemoração carnavalesca era o momento de subversão das normas e papéis sociais, bem como o caráter libidinoso que as permeiam. Eram ritos de passagem do inverno para a primavera, como clímax de exageros e libertinagens seguidos por um processo de purificação para a continuidade da vida no restante do ano.
No Brasil, a origem das comemorações carnavalescas está ligada ao Entrudo, festejo português que dava início à Quaresma, caracterizado pelo lançamento de líquidos ou pós entre as pessoas. Pelo interior do país ainda há várias manifestações desse tipo no período do Carnaval.
Fonte: Internet.O Carnaval brasileiro tal como conhecemos hoje, ligado ao axé baiano ou ao samba carioca, é uma construção extremamente recente, remontando dos ao início do século XX. Mas suas origens religiosas e profanas remontam à séculos e à várias civilizações! Tenha consciência disso ao festejar.
Fonte: Internet.* Nathan Belcavello de Oliveira é Geógrafo e Professor de Geografia. Diretor do Portal Geoblog, da Geodiálogos: Revista Eletrônica de Diálogo e Divulgação em Geografia e dos blogs Oportunidades em Geografia e Eventos de Geografia, além de pesquisador em Grupos de Pesquisa no Brasil e na Argentina.